João Pedro entrou no gramado do MetLife Stadium com cara de reencontro de colégio: aquele sorriso contido, um aceno discreto para os antigos amigos e, claro, dois belíssimos “presentes” em forma de gols. O atacante revelado nas Laranjeiras teve a audácia de aplicar a famigerada Lei do Ex com requinte. Logo aos 17 minutos do primeiro tempo, aproveitou uma saída estabanada de Germán Cano — que parecia mais confuso que GPS sem sinal em túnel — e colocou o Chelsea na frente com uma frieza que só quem já comeu angu em Xerém conhece.
O Fluminense até tentou mostrar que estava com a lição de casa em dia. Aos 25 minutos, Hércules invadiu a área como quem chega atrasado no último dia de promoção de TV de 75 polegadas, chutou com coragem, mas viu Cucurella salvar em cima da linha, numa dividida que misturava yoga, caratê e desespero defensivo. Era o momento do jogo que dava pinta de “vai que dá”. A torcida tricolor já ensaiava aquele grito engasgado, mas aí veio o VAR para esfriar o clima. Bola no braço de Chalobah, pênalti marcado, a esperança reacendida, só para ser retirada em seguida pelo árbitro francês François Letexier, após longa revisão. O juiz voltou atrás e o Fluminense voltou para a realidade.
No intervalo, Renato Gaúcho puxou a prancheta e mandou ver na canetada. Trocou Cano por Everaldo e jogou Keno no flanco esquerdo, tentando dar um gás na equipe. Mas do outro lado estava o Chelsea, treinado com relógio britânico e transições de manual. Aos 10 minutos da etapa final, Enzo Fernández lançou João Pedro em contra-ataque. E foi como ver alguém cortando um bolo no seu aniversário: ele dominou, passou por Ignácio como se estivesse passando sabão em paralelepípedo molhado e finalizou com categoria para fazer 2 a 0.
Enquanto o Chelsea tocava a bola com aquela calma de quem já pagou o IPTU do ano, o Fluminense penava para encontrar espaço. Lima até tentou chutar de fora, Everaldo tentou de dentro, mas Robert Sánchez estava ali para lembrar que goleiro também joga. E jogou bem. A equipe carioca, que começou a competição como um bom café forte, foi ficando mais rala com o tempo — e o Chelsea percebeu isso, acelerando sempre que dava.
No banco, Renato Gaúcho gesticulava mais que mímico em horário nobre, mas era difícil competir com a organização inglesa. O segundo gol desestruturou emocionalmente o Fluminense, que já vinha desgastado de uma campanha intensa e com elenco limitado. Ainda que tenha tentado manter a postura em campo, o time claramente sentiu o golpe. Os minutos finais foram de insistência, mas sem a contundência necessária para realmente ameaçar os Blues.
O Chelsea, por sua vez, seguiu no modo “gala”: Jackson quase marcou o terceiro após bela jogada individual, Nkunku fez fila, mas Thiago Santos apareceu salvando, e Palmer ainda teve tempo de desperdiçar boa oportunidade. Era o retrato de um jogo onde os ingleses tiveram o controle da narrativa, da posse, das finalizações e até da moral. O público de mais de 70 mil torcedores testemunhou uma noite em que o time azul de Londres mostrou não só eficiência, mas também respeito: João Pedro, mesmo após decidir o jogo, optou por não comemorar.
A atuação do camisa 11 do Chelsea não foi apenas eficiente. Ela foi simbólica. João Pedro não comemorou, mas fez questão de deixar registrado na memória dos torcedores tricolores — e nos arquivos do futebol — que o menino de Xerém cresceu, foi vendido, amadureceu e, como num roteiro bem escrito, voltou para ser protagonista. Só que do outro lado.
Comments on “João Pedro marca dois, elimina o Fluminense e leva Chelsea à final do Mundial”